Tanto o HPB quanto a disfunção erétil são doenças bastante comuns no universo das doenças urológicas e atingem o público masculino em uma faixa etária semelhante, então não é raro encontrarmos essas doenças associadas.
Dito isso, “matar dois coelhos com uma cajadada só” seria algo extremamente interessante e desejável. Mas será mesmo que isso é possível?
A primeira coisa que precisamos esclarecer é que medicina não é uma ciência exata e que, pensando em doenças crônicas, como é o caso em questão, é improvável uma solução milagrosa, um elixir divino que ao ser administrado vai simplesmente lhe curar dos dois males, o mundo vai ficar azul e você voltará a ter 20 anos. Obviamente, isso não existe e nosso artigo não se trata disso.
Mas, de fato, existe uma terapia que pode ser aplicada nesses casos e que, sim, é capaz de trazer resultados benéficos a ambas as condições.
Quando digo resultados benéficos, a que estou me referindo exatamente?
Bom, primeiramente, vamos lembrar que ambas as condições são multifatoriais, isso é, têm múltiplas causas. O remédio vai atuar em alguns dos mecanismos relativos a essas condições e a ação dele sobre essas condições é o que trará algum ganho ou melhora.
Então vamos nos organizar?
De quem estamos falando? Nós estamos falando dos chamados inibidores da 5-fosfodiesterase, mais precisamente da tadalafila.
O que esse remédio faz exatamente que vai ser benéfico para HPB e disfunção erétil?
De uma forma simplificada, ele atua criando um macroambiente favorável à circulação sanguínea dentro do pênis e relaxa a musculatura da próstata, bexiga e vasos sanguíneos.
E por que isso vai ser favorável para a HPB e disfunção erétil?
Nossa ereção acontece pelo represamento de sangue no pênis, certo? Não temos um osso no pênis. A rigidez acontece por conta de um volume de sangue que fica represado nos corpos cavernosos. Então, para a disfunção erétil, basicamente, a tadalafila vai ajudar a aumentar o fluxo sanguíneo no pênis, auxiliando na obtenção e manutenção da ereção para a atividade sexual.
No caso da HPB, ao atuar relaxando a musculatura da próstata, bexiga e dos vasos sanguíneos, ocorrerá uma melhora dos sintomas do trato urinário inferior. Esse é o chamado mecanismo fisiopatológico dinâmico, que consiste na hiperatividade da musculatura lisa prostática e a resposta do músculo detrusor, o músculo da bexiga, à obstrução.
E Dr, então eu também posso tomar o Viagra para essa situação, já que ele é da mesma classe que a tadalafila?
A resposta formal é não. A única medicação validada para esse fim é a tadalafila e, somente, na dose de 5mg, que é a dose diária.
Mas por que, Dr?
Bom, a resposta é que, para esse fim de tratar as duas condições, a maior parte dos estudos utilizou a tadalafila. Então, até o momento, é somente essa droga especificamente que os guidelines recomendam. Os dados do sildenafil (Viagra) para esse contexto são muito limitados até o momento.
Segundo a Associação Americana de Urologia, na versão mais recente do guideline de HPB do ano de 2022, com adendos em 2023, eles dizem o seguinte na recomendação: “Para pacientes com HPB e sintomas do trato urinário inferior, independente de possuir a comorbidade da disfunção erétil, a tadalafila na dose de 5mg/d deve ser discutida como opção de tratamento”. Sendo essa uma recomendação de grau moderado.
O que os norte-americanos querem dizer é que existem terapias clínicas, ou seja, remédios mais padronizados, mais estudados, com nível de evidência mais robusto para o tratamento de HPB. Todavia, o uso de inibidores da 5-fosfodiesterase, a tadalafila, cujo uso base é para disfunção erétil, pode ser considerado como opção.
Essa escolha será balizada pelo seu urologista. Ele vai individualizar o seu caso e avaliar se você é um bom candidato para essa medicação.
Então, não existe pílula da felicidade, nem remédio milagroso que cura todos os males, mas existem boas opções que podem auxiliar no tratamento de ambas as condições.