Reposição de testosterona. Para quem, riscos e por quanto tempo?

Muitos pacientes chegam no consultório ansiosos pela reposição e, muitas vezes, unicamente porque fizeram uma dosagem e, nessa dosagem, o resultado foi abaixo do valor de referência.

Mas será que isso é o suficiente para justificar uma reposição hormonal?

Existe uma máxima em Medicina: médico não trata papel. Trata paciente. E muitas vezes, os pacientes anseiam pela Terapia de Reposição Hormonal (TRH) não por necessidade, mas porque o papel lhes sugere o tratamento. Ao médico cabe fazer essa correção.

Eu só devo considerar o tratamento com reposição hormonal se eu estiver diante de um quadro de hipogonadismo.

Mas o que é isso?

Sinais e sintomas específicos incluem queda na libido, disfunção erétil (DE), osteoporose, rarefação de pelos e encolhimento dos testículos. Além disso, podem ocorrer sintomas não específicos, como queda de energia, vitalidade e perda de massa muscular, além de distúrbios de sono.

Em resumo, quando eu devo tratar? Se houver alteração laboratorial + sinais e sintomas.

A TRH não é isenta de riscos. Dois grandes estudos nos EUA associaram a TRH a efeitos cardiovasculares adversos.

  • Vigen et al: comparou 1223 homens com níveis de testosterona (T) abaixo de 300 fazendo TRH vs 7486 com níveis similares sem reposição. Observaram: TRH associado com aumento do risco de infarto, acidente vascular encefálico (AVE) e morte.
  • Finkle et al: estudo de risco de infarto agudo do miocárdio (IAM) não fatal após início de TRH. Em homens acima de 65 anos, a TRH aumentou em 2x o risco nos primeiros 90 dias de tratamento e 2 a 3x em homens jovens com história de doença cardiovascular.

Esses estudos apresentaram alguns erros metodológicos que diminuem sua confiabilidade:

  • estudos retrospectivos
  • não se basearam em níveis recomendados pelas sociedades de Endocrinologia
  • não avaliaram outros parâmetros importantes

Atualmente, sabemos que baixos níveis de testosterona aumentam o risco cardiovascular e homens hipogonádicos tratados vivem mais do que homens não tratados.

Opções de tratamento incluem: parenteral, pellets, nasal, adesivo, gel e oral.

Após o início do tratamento, é essencial fazer monitorização e isso vai definir o tempo de tratamento. Nessa monitorização devem ser avaliados:

  • a melhora clínica em 3-6 meses. O objetivo é elevar os níveis para a média normal.
  • é importante avaliar conjuntamente a próstata, o sangue e os ossos.

Esses elementos vão balizar a decisão de continuar ou parar.

Razões para interromper o tratamento incluem:

  • decisão do paciente
  • falência do tratamento
  • preocupação com fertilidade
  • cessação do uso de medicações que podem interferir
  • aumento de hematocrito (Ht)
  • resolução da condição que levou à baixa testosterona, como diabetes tipo 2, obesidade ou falência renal.

É fundamental que o paciente esteja ciente dos riscos e benefícios da reposição de testosterona, e que a decisão seja tomada em conjunto com o médico, após uma avaliação completa do seu quadro clínico e dos resultados dos exames.

Lembrando sempre que cada caso é único e requer uma abordagem individualizada. Fique atento à sua saúde e conte com um profissional qualificado para lhe orientar da melhor forma.

Dr. Felipe Hamoy Kataoka

Médico Assistente nos Serviços de Residência do Hospital do Servidor Público Municipal de São Paulo - HSPM-SP
Chefe da divisão de Urogeriatria da Clínica Urobrasil.
Compartilhe esta postagem

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *