Em primeiro lugar é importante pontuar que para a Associação Americana de Urologia (AUA) não existe distinção entre detecção precoce e rastreio, uma vez que ambos implicam em detecção de doença em estágio inicial, pré sintomático, isso é quando o indivíduo não teria nenhuma razão para buscar ajuda médica.
A primeira pergunta que muitos levantam é se o rastreio para câncer de próstata deve ou não ser feito ? A resposta mais simples e objetiva a pergunta é: sim! E existem algumas razões para isso. Vejamos algumas delas:
- Redução de 50% nas taxas de mortalidade ajustadas para idade nos EUA a partir dos anos 1990, quando o rastreio começou.
- Também a partir dessa década reduziram-se as mortes por doenças cardiovasculares, o que levou os homens a viverem mais e, sendo assim, aumentando o risco de desenvolver câncer de próstata.
- O rastreio também reduziu a apresentação inicial como doença metastática.
- Câncer de próstata é um dos tumores mais prevalentes no homem.
Mas por que então alguns questionam a validade do rastreio do câncer de próstata (até mesmo entre Médicos)? Principalmente por conta de uma publicação de 2012 da The U.S. Preventive Services Task Force, um painel de especialistas norte americanos, voluntários e independentes em prevenção de doenças e medicina baseada em evidências. Resumidamente, naquele ano a publicação questionou a validade do rastreio, sugerindo que talvez houvesse mais riscos que benefícios. O resultado disso foi aumento de doença avançada e metastática em curto espaço de tempo. Felizmente, em 2017, esse mesmo grupo alterou suas recomendações de “não faça”para “discuta com seu médico e, talvez, faça”.
O consenso atual entre as principais sociedades urológicas é que deve ser feito, porém com regras e ressalvas. Sim, não é para qualquer homem e de qualquer jeito.
Vejamos as recomendações segundo a AUA:
- Homens com menos de 40 anos: não rastrear.
- Homens entre 40 e 54 anos: não encoraja o rastreamento de rotina, exceto se raça negra ou história familiar positiva.
- Homens entre 55 e 69 anos: a execução do rastreio é uma decisão compartilhada, porém é nesse grupo onde se encontram os indivíduos com maior benefício no rastreio. Nesse intervalo de idades os ganhos superam os riscos.
- Homens acima de 70 anos: não se recomenda o rastreio de rotina, porém homens que gozem de boa saúde podem se beneficiar da manutenção do rastreio.
O painel da AUA também não recomenda rastrear indivíduos cuja expectativa de vida seja inferior a 10-15 anos.
A Associação Européia de Urologia considera a partir de 50 anos, uma idade razoável para indicar rastreio e a partir de 45 anos se raça negra ou história familiar positiva. Os europeus também consideram uma estratégia risco adaptada baseada em PSA para rastreio a partir de 40 anos se PSA > 1 ng/ml, ou PSA > 2 ng/ml a partir dos 60 anos. Assim como seus colegas americanos, também levam em conta a expectativa de vida a performance status (de maneira simplificada, é uma medida relacionada à tentativa de quantificar o bem-estar geral dos pacientes).
Como fazer? Essencialmente combinando os exames de PSA e toque retal e, eventualmente, a discrição do Médico, outros exames podem ser realizados para melhor compreensão e individualização do caso. A confirmação dos casos suspeitos se faz através de biópsias da próstata.
O PSA e o toque retal devem ser realizados com intervalos de 1-2 anos, sendo 2 anos o preferível, visando preservar a maioria dos benefícios e reduzir o sobre diagnóstico (diagnosticar o que não precisa ser diagnosticado, isso é, aquilo que não tem significância clínica) e falsos positivos (quando os exames dizem que você tem uma doença, mas na verdade você não tem. Sim, exames não são infalíveis).
Em conclusão, somos favoráveis ao rastreio de forma individualizada e judiciosa, pois ele se mostrou efetivo em reduzir mortalidade, sua execução permite executar alguns parâmetros que melhoram a indicação da biópsia, permite desacoplar diagnóstico e tratamento (em algumas situações é possível não adotar nenhuma conduta interventiva – falaremos mais disso em artigo específico) e permite a individualização do tratamento, isso é, que modalidade terapêutica é mais benéfica para o indivíduo em questão.
A introdução de marcadores prognósticos e preditivos na prática clínica irão no futuro auxiliar nessa mudança de paradigma.